APRESENTAÇÃO DA PLATAFORMA “PERFIL SOCIAL”


1. Apresentação

O conteúdo da plataforma “Perfil Social” é formado pelos principais resultados de estudos e pesquisas realizadas pelo professor Waldir Quadros ao longo de sua carreira acadêmica no Instituto de Economia da UNICAMP.

Nesta trajetória foram decisivos a orientação, apoio e estímulo do professor João Manuel Cardoso de Mello, agora na Facamp – Faculdades de Campinas.

Desde logo, é necessário citar a valiosa colaboração do professor Alexandre Gori Maia, do IE - UNICAMP, sem a qual este trabalho seria impossível de ser realizado. E também o enriquecedor ambiente de estudos e discussões propiciado pelo Cesit – Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, desta mesma instituição.

O objetivo da plataforma é constituir-se em ferramenta de trabalho acessível e útil para a compreensão da realidade social brasileira, em particular no que se refere à sua estratificação sócio-ocupacional.

Neste sentido, um alerta indispensável diz respeito à imperiosa necessidade de não nos rendermos ao “fetiche” dos números, ainda que eles sejam a principal matéria prima desta ferramenta.

De fato, existem poucas informações exatas no tratamento analítico de variáveis sociais. O que elas oferecem é um rico caminho de exercícios de interpretação, em que os números servem de suporte para análises qualitativas de tendências, ilustrações de hipóteses teóricas e outros tratamentos desta natureza.

Ou seja, os números devem ser utilizados para uma descrição aproximada (e, geralmente, provisória) de determinada realidade social e de sua evolução, devendo ser acompanhada de uma abordagem histórica, para sua completa elucidação.

2. Descrição do conteúdo da área Busca Simples

Para facilitar a exposição, nesta descrição vamos nos ater à opção “busca simples”, em que é pesquisada uma característica do objeto de análise de cada vez. Entretanto ela é valida também para a “busca combinada”, que possibilita o cruzamento simultâneo de duas características.

No conteúdo da plataforma, são apresentados dados de dois inquéritos domiciliares do IBGE: os Censos Demográficos de 2000 e 2010 e as PNADs – pesquisas nacionais por amostra de domicílios de1981 a 2011. Mais à frente, serão inseridos os censos demográficos de 1970, 1980 e 1991, bem como atualizada periodicamente a base da PNAD.

Logo de imediato, é importante alertar que não devem ser feitas comparações diretas entre estes dois inquéritos, principalmente no que se refere aos valores absolutos das populações envolvidas. Eles possuem natureza distinta do ponto de vista estatístico e entendemos que apenas as tendências podem ser confrontadas com alguma propriedade.

A seguir descrevemos os campos que aparecem na tela “Busca Simples”.

2.1 - Objetos de análise

São oferecidas três opções: “toda a população”, “pessoas ocupadas” e “pessoas desocupadas”.

A opção “toda a população” apresenta dados relativos ao conjunto das pessoas residentes no Brasil. A opção “pessoas ocupadas” refere-se àqueles que declaram estar ocupados na semana de realização do inquérito domiciliar. A opção “pessoas desempregadas” engloba os que declaram não estar ocupados e que procuraram emprego nos dois últimos meses1.


1 - Este período de tempo foi adotado em nossa metodologia para incorporar o desemprego oculto pelo desalento, quando a pessoa deixa de procurar emprego em condições adversas do mercado de trabalho. Antes o IBGE considerava apenas a semana do inquérito, mas recentemente ampliou o período de procura para um mês.

2.2 - Localidade

Neste item reside a principal diferença entre o Censo e a PNAD em termos de descrição das buscas no site. Isso porque o Censo desagrega os dados até o nível municipal e a PNAD apenas chega ao nível de regiões metropolitanas oficiais, naqueles estados que as possuem.

O primeiro bloco apresenta as opções de estados da Federação. A opção que aparece na tela é “todos”, e refere-se ao conjunto dos estados, ou seja, ao Brasil. Ao lado do bloco aparece um ponto de exclamação. Ao passar o cursor sobre ele o usuário é informado de que esta busca demora um período de tempo pouco maior, por ser necessário processar todos os dados contidos na plataforma, mas nada exasperante. Normalmente, a demora é maior apenas na primeira busca, reduzindo-se nas sucessivas de uma mesma pesquisa.

No caso da PNAD, clicando na seta do bloco dos estados são apresentadas as opções de busca para cada estado e sua respectiva região metropolitana, quando ela existir. Nesta última alternativa, ao clicar em “selecione” aparecem as opções “sim”, que apresenta os dados da região metropolitana; e “não”, com os dados do resto do estado.

No caso do Censo, clicando na seta do bloco dos estados, são apresentadas as opções de busca para cada estado. Ao selecionar um deles, são abertas as opções: Mesorregião, Microrregião e Município.

Nestes três blocos a primeira opção sempre é “todos” e, nesta situação, os dados são aqueles do próprio estado. Ao clicar a seta do bloco mesorregião, são apresentadas todas as mesorregiões definidas pelo IBGE para o estado em pauta, sendo que uma delas é a região metropolitana.

Ao selecionar uma mesorregião temos a opção de pesquisar apenas seus dados, deixando os demais blocos em “todos”, ou selecionar alguma das microrregiões que a compõe.

Aqui também existe a possibilidade de pesquisar apenas os dados da microrregião selecionada, deixando o bloco dos municípios em “todos”, ou selecionando algum dos municípios que a compõe.

Por fim, os municípios maiores oferecem a opção de pesquisar por distritos, tais como definidos pelo IBGE e nem sempre coincidentes com os bairros das cidades.

2.3 - Ano de análise

Ao clicar a seta ao lado de “selecione” são apresentados os anos em que os dados estão disponíveis no site. Este bloco deverá ser necessariamente acionado para a busca se realizar, referindo-se aos períodos disponíveis na PNAD – de 1981 a 2011 – e nos Censos Demográficos – 2000 e 2010.

2.4- Características do grupo

Ao clicar a seta ao lado de “selecione” são apresentadas várias características do objeto de análise (e localidade/ano) que esta sendo pesquisado.

Antes de descrever cada uma delas é importante registrar que ao se fazer a busca em alguma destas características, o site oferece duas alternativas de visualização: gráfico e/ou tabela.

Na primeira opção, o gráfico é em forma de “pizza” e apresenta a porcentagem de pessoas em cada uma das subdivisões da característica examinada. A opção tabela apresenta também a quantidade de pessoas e pode ser salva em Excel, clicando em Download.

Outro recurso que o site oferece é a de salvar a busca enquanto se está na tela em pauta, permitindo fazer comparações entre várias buscas. As buscas salvas são listadas no bloco correspondente, que fica no lado esquerdo da tela.

Para seguir a ordem em que a metodologia de estratificação social adotada neste site foi desenvolvida, vamos começar pelo objeto de análise pessoas ocupadas, tal como se apresenta a seguir.

2.4.1 – Pessoas ocupadas

Neste objeto de análise as características são: escolaridade, gênero, idade, raça, estrutura ocupacional individual, nível social individual, nível social familiar 1, nível social familiar 2 e estrutura ocupacional familiar.

Iniciando a descrição de cada uma das características, na opção escolaridade as pessoas são distribuídas pelos seguintes níveis: ignorado (quando a pessoa não informou sua escolaridade), nunca frequentou escola, primeiro grau completo ou incompleto, segundo grau completo ou incompleto e terceiro grau completo ou incompleto.

Na opção gênero: masculino e feminino.

Na opção idade as pessoas são agrupadas nas seguintes faixas etárias: 0 a 4, 5 a 9, 10 a 14, 15 a 19, 20 a 24, 25 a 29, 30 a 34, 35 a 39, 40 a 44, 45 a 49, 50 a 54, 55 a 59, 60 a 64 e 65 anos ou mais.

Na opção raça: branca, preta, amarela, parda e indígena, na definição do IBGE.

A estrutura ocupacional individual constitui o ponto de partida de nossa proposta de estratificação social, agregando os indivíduos ocupados em “grupos ocupacionais” definidos a partir de sua ocupação (“profissão”) e posição na ocupação (proprietário empregador, trabalhador assalariado ou trabalhador por conta própria/autônomo), sem levar em conta seus rendimentos declarados2.

As definições básicas tomam como referência a posição dos indivíduos na divisão social do trabalho, procurando criar grupos com características comuns.

Assim sendo, um primeiro grupo ocupacional agrega os proprietários que empregam trabalhadores assalariados de forma permanente, que são subdivididos em A.1 – empregadores com mais de 10 empregados e A.2 – empregadores com até 10 empregados3.

Com a definição destes dois grupos, “sobram” todos os ocupados que não utilizam trabalho assalariado.

Neste amplo universo podemos identificar claramente as ocupações agrícolas. Um primeiro grupo é formado pelos H.1 – proprietários agrícolas por conta própria, que engloba os pequenos agricultores familiares. Outro grupo integra os trabalhadores não remunerados agrícolas, basicamente formado por familiares que auxiliam o grupo anterior, e que se subdivide em J.2 – que trabalham acima de 15h semanais e J.4 – até 15 horas semanais. Outros dois grupos característicos são os H.2 – trabalhadores autônomos agrícolas (os “boias frias”) e os H.3 – trabalhadores assalariados agrícolas permanentes. Por fim, o último grupo é o N – autoconsumo composto por aqueles dedicados à economia de subsistência.

Neste ponto “restam” ainda todos os não proprietários urbanos (“não agrícolas”).

Um primeiro grupo facilmente identificado é formado pelos I – Trabalhadores domésticos.

Para prosseguir na definição dos demais grupos neste universo extremamente heterogêneo é necessário agora lançar mão de alguma referência teórica. Para tanto, adotamos a formulação de Wright Mills4 e identificamos o amplo contingente de “colarinhos brancos”, que se subdividem em C – autônomos e D – assalariados.

Por subtração, identifica-se o grupo denominado de trabalhadores, que igualmente se subdividem em F – autônomos e G – assalariados.

Continuando, são classificados os trabalhadores não remunerados, que auxiliam nos pequenos negócios familiares urbanos (englobados nos grupos C ou F), e que se subdividem em J.1 – com jornada acima de 15 horas semanais e J.2 – com até 15 horas.

Por fim, temos o grupo dos ignorados formado por todos que não declaram sua ocupação ou situação ocupacional.

A opção nível social individual apresenta a “pirâmide social” das pessoas ocupadas, ou seja, a sua estratificação social.

As pessoas ocupadas foram agrupadas em cinco estratos sociais: alta classe média5, média classe média, baixa classe média, massa trabalhadora e miseráveis6.

Para a definição destes estratos adotou-se o seguinte procedimento: na alta classe média verificou-se qual a linha de corte nos rendimentos declarados que capta um conjunto de ocupações típicas desta camada social, tais como, médicos, engenheiros, professores universitários, administradores, micro e pequenos empresários etc.

Da mesma forma, na média classe média o objetivo foi incluir os professores do ensino médio, técnicos especializados, supervisores etc. Na baixa classe média, os professores do ensino fundamental, auxiliares administrativos, comerciários, auxiliares de enfermagem etc.

Cabe ressaltar que estas ocupações foram consideradas como típicas de seus estratos a partir de formulações teóricas e da sensibilidade a respeito da realidade brasileira.

Por sua vez, as faixas de rendimentos declarados utilizadas para delimitar estes estratos foram associadas a “padrões de vida” característicos de cada um deles.

Com base nestes critérios, adotou-se a faixa de 3 a 5 salários mínimos para o “padrão de vida” de baixa classe média, de 5 a 10 para média classe média e acima de 10 para alta classe média.

Na definição das linhas de corte das duas camadas inferiores, o procedimento foi o de considerar como miseráveis as pessoas ocupadas que declaram um rendimento inferior ao salário mínimo, que é o piso constitucional, e entre 1 e 2 salários mínimos para a massa trabalhadora.

O valor do salário mínimo foi fixado em um determinado período (janeiro de 2004) e as linhas de corte são movimentadas ao longo do tempo utilizando-se o INPC (corrigido pelo IPEA para o dia 1º) como deflator. Assim, em termos temporais a estratificação das pessoas ocupadas lança mão de linhas de corte monetárias fixas (deflacionadas), e não múltiplos do salário mínimo.

A opção nível social familiar 1 apresenta a primeira alternativa de agregação das pessoas ocupadas em famílias. Nela, as famílias são classificadas com base na posição que o membro ocupado de melhor remuneração declarada situa-se na estratificação individual, explicada anteriormente7.

Esta forma de estratificação revela uma maior sensibilidade aos movimentos conjunturais da mobilidade social, uma vez que a ascensão de um dos membros pode elevar a posição de toda a família, o contrário ocorrendo quando o membro melhor situado é rebaixado de posição.

A opção nível social familiar 2 apresenta a segunda alternativa adotada. Agora, as famílias anteriormente classificadas com base na posição do membro ocupado de melhor remuneração declarada (nível social familiar 1) são reposicionadas a partir das suas rendas familiares per capita8.

Ao levar em conta o nível de renda familiar per capita esta segunda forma de estratificação incorpora um indicador da “condição de vida” das famílias.

Por fim, a opção estrutura ocupacional familiar apresenta a estrutura ocupacional do nível social familiar 1, ou seja, ela apresenta a estrutura ocupacional do membro melhor remunerado.


2 - A metodologia completa pode ser acessada em http://www3.eco.unicamp.br/publicacoes na série Textos para Discussão, TD-147.

3 - A descrição dos grupos ocupacionais segue a ordem da construção metodológica e não a ordem de apresentação no site.

4 - WRIGHT MILLS, C. A Nova Classe Média - White Collar. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1979 (1ª edição, 1951).

5 - O topo da estrutura é a alta classe média devido ao fato de que os ricos não são devidamente captados pelos inquéritos domiciliares oficiais.

6 - Nas tabulações da PNAD também aparece o estrato “ignorados”, que engloba as pessoas que não declaram seus rendimentos.

7 - A metodologia completa pode ser acessada em http://www3.eco.unicamp.br/publicacoes na série Textos para Discussão, TD-147.

8 - A metodologia completa pode ser acessada em http://www3.eco.unicamp.br/publicacoes na série Textos para Discussão, TD-151.

2.4.2 – Pessoas desempregadas

Quando o objeto de análise são os indivíduos desempregados as opções são idênticas àquelas das pessoas ocupadas , com a diferença de que aqui não existem as opções nível social individual e estrutura ocupacional individual, uma vez que são desconhecidos tanto rendimentos como as antigas ocupações da imensa maioria dos desempregados.

2.4.3 – Toda a população

Quando o objeto de análise for toda a população residente no Brasil, também não existem as opções nível social individual e estrutura ocupacional individual, uma vez que estes são atributos das pessoas ocupadas.

Por outro lado, são incluídas duas novas opções: desempregados e ocupados, que apresentam a participação na população das pessoas que se encontram nestas situações, com seus complementos, ou seja, as demais pessoas da população.

Além disso, na estrutura ocupacional familiar são incorporados dois novos grupos ocupacionais (em relação à estrutura ocupacional individual apresentada anteriormente).

O primeiro grupo é denominado de “SO – Sem ocupação com renda” e reúne as famílias em que os membros melhor remunerados são pessoas sem ocupação na semana do inquérito e que não procuraram ocupação, mas que declaram rendimentos. O universo de pessoas nesta situação é composto majoritariamente por aposentados e pensionistas, incluindo também pessoas que recebem benefícios sociais.

O segundo, denominado de “SOF – Sem ocupação sem renda”, reúne as famílias em que nenhum membro possui ocupação ou rendimento.

2.5 - Filtros

Ao abrir o bloco de “filtros” fica disponível a mesma lista de opções que se encontram nas características, à exceção da opção anteriormente selecionada. Desta forma, com os filtros é possível combinar a pesquisa de uma característica com todas as demais opções.

3. Descrição do conteúdo da área Painel de Profissões

Inicialmente é importante ter claro que, por definição, esta área do site engloba apenas as pessoas ocupadas.

Sua finalidade é a de identificar as ocupações (profissões) e os setores econômicos (atividades) das pessoas ocupadas.

Ela se subdivide em “Censo” e “Nível Social – Censo” e “PNAD” e “Nível Social – PNAD”, com a seguinte descrição de cada uma delas.

3.1 – Painel de profissão: Censo e PNAD

Em relação à descrição da “Busca Simples” das pessoas ocupadas apresentada no item 2.4.1, o acréscimo aqui reside no campo “Objetos de análise”, com dois blocos: ocupações e atividades.

No bloco das ocupações, ao clicar na seta são apresentadas todas as ocupações listadas pelo IBGE para o inquérito domiciliar em pauta, permitindo pesquisar as características (e filtros) de cada uma delas.

Ao clicar em alguma ocupação em particular, imediatamente aparece um novo bloco com a opção de pesquisar simultaneamente sua estrutura ocupacional individual. Se não houver interesse momentâneo nesta busca, basta deixar na opção “todos”.

É importante registrar que, ao longo do tempo, a lista de ocupações e a denominação de algumas delas em particular pode sofrer alterações, nem sempre sendo possível compará-las de um período para outro.

Na PNAD, as alterações foram realizadas em 2002. Assim, existe uma série homogênea de ocupações que vai de 1981 a 2001 e outra de 2002 a 2011. No Censo, existe uma lista para 2000 e outra para 2010. No futuro pretendemos agregar as ocupações em famílias homogêneas eliminando esta dificuldade para comparações temporais.

No bloco das atividades são apresentados os setores econômicos definidos pelo IBGE, já agregados em grupos de atividades para facilitar a análise de seu comportamento e evolução.

3.2 - Painel de profissão: Nível social – Censo e Nível social – PNAD

A novidade aqui reside no bloco das características que oferece a opção “Quantidade + renda média”, informando o número de pessoas ocupadas e seus rendimentos médios.

No campo dedicado ao objeto de análise aparece o bloco “nível social”, com os vários estratos sociais. Ao escolher um deles, é oferecida a opção de pesquisar todas as ocupações da lista. Se o usuário permanece em “todos” no bloco das ocupações, a busca “quantidade + renda média” apresenta a tabela com a lista das ocupações mais numerosas ordenadas pelo número de pessoas. Se houver interesse em ordená-las pelos rendimentos, basta clicar duas vezes sobre o cabeçalho “renda média”.